sábado, 6 de setembro de 2014

Serie: Ilustradores Made In Brazil – Henrique Santini

Esse é um projeto do Loco A Go Go que tem como fundamento dar espaço e expor um pouco a pessoa e os trabalhos de ilustradores nacionais que atuam no underground... tem um inicio padrão, afinal nem todos leram todos as matérias dessa serie e na sequencia uma entrevista e nesse meio todo o trabalho desses heróis!!!
E hoje vamos conhecer Henrique Santini...


Ilustradores do Brasil Underground 

Sempre fui apaixonado pelas imagens que povoaram minha vida underground. Foram cartazes de show, flyers, estampas dos shapes e adesivos de skate e surf, capas de discos (Lps e Cds), grafites, fanzines, quadrinhos alternativos (como a revista Animal) e qualquer outro lugar de tivesse um desenho que me fizesse parar por um momento. 

Jim Evans

Conforme fui amadurecendo e também por que as informações foram ficam mais acessíveis comecei a saber quem eram alguns deles... COOP (as mulheres opulentas e perversas), Marco Almera (com seu estilo retro e parceira de algumas das minhas bandas alternativas prediletas e antes do retro virar hype!), Jim Phillips (Santa Cruz Skateboardings) e Vernon Courtland Johnson (quem não pirou nos shapes da Powell Peralta???) ditavam a moda street!! Ed Roth fez a geração dos 60/70 alucinar com o Rat Fink..alias ainda faz até hoje. 


Nos quadrinhos... Liberatore (Ranxerox), Max (Peter Punk), Rochette & Veyron ( Edmundo, O Porco) e outros tantos mestres que nos alimentavam com suas ideias brilhantemente insanas! Bem poderia ficar um bom tempo citando minhas referencias, mas hoje a ideia é falar de ilustradores BRASILEIROS. Esses gringos mesmo trabalhando pelo circuito underground, tem uma visibilidade muito grande e um grande numero de fãs. 
Os caras tem sites, fazem camisetas, livros, disponibilizam seus originais, sketchs, serigrafias pra venda, ou seja, existe uma cultura desse tipo de arte e consequentemente a chance deles viverem dos desenhos sem ter de ter outros trampos onde não façam o que realmente gostam. E eles mais do que merecem isso, pois são brilhantes. 

Jim Evans - Capa do Voodoo Glow Skulls

Mas e aqui no Brasil ???? É possível viver de arte para o mercado e publico underground? Comecei pesquisando um pouco o publico e a maioria nem sabe quem são os autores dos trabalhos que eles sabendo ou não, admiram dia a dia... Assim...escalei seis amigos/ilustradores pra contarem o lado deles. Vamos dividir matérias individuais pra vocês curtirem bem essa pessoas incríveis e seus trabalhos, mais incríveis ainda... São eles: Daniel ET, Ricardo Machado, Ratones Skate e Guilherme Borgomoni. Fiquem ai viajando nessa ideia uns dois dias...e loguinho a primeira entrevista vai ao ar... e como uma coisa leva a outra quanto mais pesquisava, mais descobria novos heróis pouco lembrados... mas tamos aqui pra mudar esse status e dessa vez jogaremos nossas luzes sobre Henrique Santini, ai vai!!



LAGG- Por favor, apresentem-se pros leitores do Loco A Go Go. Nome, apelido e são e/ou fazem além de desenhar.
Henrique- Olá! Sou o Henrique Santini, me envolvo com algumas coisas dentro do universo dos anos 50 e 60, principalmente ilustração com temática rockabilly, tiki e retrô. Venho explorando esses temas em exposições aqui no Rio Grande do Sul, onde moro, e em peças autorais e comerciais. Fora isso, faço parte da banda de rock n´roll "Rock This Town", como baixista. E, quando rola uma oportunidade, coloco meus disquinhos de música de elevador e exótica pra rodarem por aí.

LAGG- O que levou você a desenhar?
Henrique- É a coisa que me lembro de fazer desde a lembrança mais antiga que tenho. Desde pequeno é quase um tique nervoso, as margens dos meus cadernos sempre acabavam cheias de homenzinhos estranhos. E isto também sempre esteve ligado ao meu interesse por música e cultura pop em geral, foi tomando uma dimensão mais focada com o tempo.


Henrique Santini


LAGG-  Quando e como seus desenhos/ilustrações passaram de hobby para trabalho?
Henrique- Acho que isso vem acontecendo cada vez mais desde que, com toda informação possível através da internet e dos contatos das redes sociais, as distâncias entre as pessoas ficaram relativas, e fui percebendo que existe interesse, e também mercado, para o trabalho com as referências que me agradam. No Brasil, noto um crescimento do consumo por objetos (e cultura em geral) do meio do século. Aí começaram os convites pra projetos legais, e a coisa foi tomando corpo.


LAGG- Como foi a decisão de sair do padrão normal de todo desenhista iniciante?
Henrique- Tipo deixar de lado copiar os HQ e sair pras coisas bizarras, monstros, caveiras, ou seja, lá o que você desenhe?
Essa escolha vem naturalmente com as influências do meu trabalho - desenhos animados dos anos 50 e 60 com aquele toque mais modernista, como Mr.Magoo e os personagens do estúdio Hannah Barbera, anúncios desta época, etc. Tenho também influência de arte “primitiva”, como a produzida pelos povos da Polinésia e África. Isso acaba convergindo no meu interesse pela cultura Tiki, que tomou os EUA com muita força no pós Segunda Guerra.


LAGG- Quais são os ilustradores que te influenciam (gringos e brasileiros)?
Henrique- Não tem como não citar, de início, o Shag, californiano que hoje é conhecido inclusive fora do circuito retrô. Tomei contato há uns 15 anos, quando vi uma capa da Brian Setzer Orchestra inspirada pelo estilo dele. Foi meu primeiro contato com a cultura Tiki. Gosto demais de Ilustradores clássicos como Mary Blair e Tom Oreb, que contribuíram com a Disney nos anos 50. Tem o Derek Yaniger, quem eu acho que domina a linguagem atualmente como poucos. E, porque não, o sr. Pablo Picasso que , fascinado por arte africana e das ilhas do Pacífico, criou obras como Les Demoiselles D'Avignon e influenciou toda uma geração de ilustradores com suas figuras planificadas.

Henrique Santini


LAGG- Quais técnicas você mais gosta e usa?
Henrique- Pelo controle no acabamento e possibilidades infinitas de experimentar enquanto produz, trabalho muito com o meio digital e, posteriormente, imprimo em diferentes formatos. Estou agora me aventurando também em escultura com papel machê, buscando levar meu estilo para a coisa mais física, palpável. E o próximo passo na fila é serigrafia, algo em que tenho interesse faz tempo.


LAGG- Sua arte te sustenta financeiramente?
Henrique- Meu trabalho de arte ocorre em paralelo com minha atividade como publicitário, mas tem ocupado cada vez mais tempo e dedicação. Se não me sustenta inteiramente, traz uma realização pessoal enorme.

Henrique Santini - Tribos

LAGG- Quais obras suas estão por ai no underground e a galera nem faz ideia?
Henrique- Para o aniversário de 9 anos da festa de música balcânica Balkan Express, que o Dj Búlgaro Kosta Kostov produz na Alemanha, fiz o cartaz de divulgação do evento. Foi um trabalho muito legal de ver em fotos, cartazes colados em paredes de um país onde nunca pisei de fato.
Também estou aguardando o lançamento do compacto em vinil da banda de rockabilly Mystery Trio, em que fiz arte da capa. Está para sair pela gravadora inglesa Rhythm Bomb Records.

Henrique Santini - Mysteri Trio Cover


LAGG- Cite as que você mais gostou de fazer e as com o melhor resultado.
Henrique- A gente sempre vai eleger os últimos trabalhos como os preferidos. Achava que isso era papo furado, mas a evolução é inevitável com o passar do tempo. A inquietação faz quer sempre experimentar coisas novas em tema e em estilo.
Tive recentemente uma alegria muito grande em fazer um desenho para o programa Tiki Nervioso, apresentado pelo João Gordo e Marinho Otra Vida na Rádio Antena Zero. É ótimo participar de alguma forma de uma iniciativa tão legal.
E minha exposição Tribos, realizada em 2013 na Usina do Gasômetro, aqui em Porto Alegre, foi outro trabalho que curti demais fazer. Nesse projeto, uni tribos urbanas com personagens de grupos étnicos de diferentes partes do mundo, em um coquetel. Foi uma forma de juntar meu interesse em arte e culturas "primitivas" com as tribos urbanas, por que me interesso muito também.

Henrique Santini - Web Radio Show Tiki Nervioso


LAGG- Você trampa muito na brodagem? Ou seja faz desenhos de graças pros amigos) Como você encara isso?
Henrique- Tem dois aspectos aí, na minha opinião. Um é a camaradagem entre pessoas com interesses em comum, que acaba motivando trocas com outros retornos que não o financeiro, diretamente. Fazer algo para quem e para o que acreditamos, quando podemos, é muito recompensador.
Porém, claro, isso tem que partir de uma disposição pessoal do artista. O ponto de partida é que a dedicação a qualquer trabalho deve ser remunerada. Senão fica ruim pra todo mundo, pra quem produz e pra quem adquire um trabalho que não é valorizado.


LAGG- Acha que o mercado tem mais espaço pra ilustradores?
Henrique- Acho que sim. Falando mais no estilo em que trabalho, existe muita procura por material de inspiração retrô, é uma tendência. Mas, atualmente, o pessoal consome muita coisa que é reprodução direta de fotos, ilustrações de pin ups, por aí. Tudo meio pirata, claro. Acredito num mercado legal a ser explorado com arte original e exclusiva, é o próximo caminho quando o pessoal estiver saturado das mesmas imagens de sempre e buscar algo diferenciado.


Henrique Santini

LAGG- Como você se compara aos ilustradores gringos (como base pode usar alguns dos que citei no começo da matéria)?
Henrique- Lá fora existe um mercado já sólido, uma demanda constante para o trabalho desses caras. Há grandes encontros regulares da cultura do meio do século, como o Viva Las Vegas e o Tiki Oasis, onde o artista pode ir lá, divulgar e vender seu material. Estamos falando de milhares de pessoas frequentando e consumindo, porque são apaixonadas por esta cultura. Aqui há curiosidade, mas ainda falta regularidade.


LAGG- Acredita que as linhas de negócios como as utilizadas lá fora (Livros, Camisetas, Vendas de obras e cópias, bonecos...podem dar certo no Brasil?
Henrique- Sim, acredito muito nisso. O espaço para esse tipo de material tem crescido. Faltam canais de venda e falta uma promoção mais eficiente, as coisas ainda são feitas de forma um tanto amadora, apesar das boas intenções.


LAGG- Como fico fuçando muito, vi que existe um caminho que muito gente esta usando no mercado externo. O de pôsteres fictícios. Explico desenham pôsteres de shows de bandas badaladas mas que nunca fizeram esses shows, um artificio pra venderem seu material... vocês fariam isso?
Henrique- A principio, acho uma boa sacada, mas que já anda um pouco saturada de tantas iniciativas semelhantes, o que acaba diminuindo o impacto. Mas, dependendo da proposta, certamente há bandas e músicos com quem eu gostaria de experimentar.


LAGG- O fim do uso de pôsteres nas ruas (em SP temos o cidade limpa), divulgação de eventos hoje ser fortemente feita por mídias digitais, minando a distribuição de flyers e por fim material de divulgação pobre (ex.: um pôster digital feito com os dados do evento em cima de uma foto qualquer) desanima a continuar com seu trabalho?
Henrique- Um trabalho legal e bem feito sempre vai ser notado. Sim, existe muita coisa feita de forma amadora (tosca), o que também valoriza mais os shows e bandas que capricharem no seu material. Não sei se isso se traduz em maior público, mas certamente a percepção geral sobre o artista ou produtor do evento é influenciada.


Bem, nas matérias anteriores não tinha pensado nisso... mas ter um som é basico né? Assim Loco a Go Go se inspirou nesse clima todo e manda um som especial para o Henrique Santini...toma!!

Preston Epps - Bongo Rock


LAGG- O que poderia ser feito pra melhorar a penetração do trabalho dos ilustradores em meio aos consumidores e/ou publico em geral?
Henrique- Aqui no Sul ainda temos poucas galerias com essa proposta mais underground ou de cultura pop. Também sinto falta de encontros em lugares diferentes do país para o pessoal se conhecer. E acho que há espaço pra lojas virtuais, o que facilita pra quem quer se mostrar e pra quem quer encontrar coisas diferentes, sem a limitação de proximidade.


LAGG- Que planos de futuro você tem?
Henrique- Desenvolver meu estilo em outras plataformas e expor em outras cidades onde ainda não conheço.

Henrique Santini


LAGG-  Por favor sinta-se a vontade pra deixar um recado, desabafo ou qq outra coisa que queira...
Henrique- Só tenho a agradecer a receptividade de todos que tenho conhecido por causa dos desenhos. Quem quiser conhecer mais ou mesmo adquirir alguma obra, meu site é www.henriquesantini.com.br
Valeu, abraço forte!

Só nos Tiki marotos.... e essa capa do Mystery Trio então! Fantástica... como disse ta lotado de ilustradores brilhantes  por ai... hoje você conheceu mais um e agora quando trombar com um arte do Herique por ai, vai matar de primeira o autor... é isso, hora de dar valor ao que é nosso e ao que rola no paralelo.










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