terça-feira, 8 de outubro de 2013

Serie: Ilustradores Made In Brazil - Everaldo (Ratonés) Marques

E mais ilustradores "Local Boys" pra vocês, hoje vamos com Ratonés... que nem imaginava se chama Everaldo. 
Bem Ratonés ou Everaldo... sempre foi do rolê do Skate e entre o giro das rodinhas e o punk rock das sessions, foi amadurecendo e desenhando, o resultado ele mesmo conta pra gente... Mas pra quem não leu a introdução da primeira matéria ( Gui B.) vou disponibilizar novamente... e se você já leu...pula lá pra entrevista!!!

INTRO!
Sempre fui apaixonado pelas imagens que povoaram minha vida underground. Foram cartazes de show, flyers, estampas dos shapes e adesivos de skate e surf, capas de discos (Lps e Cds), grafites, fanzines, quadrinhos alternativos (como a revista Animal) e qualquer outro lugar de tivesse um desenho que me fizesse parar por um momento.

Capa do El Vibora (Esp) por Max.

 Conforme fui amadurecendo e também por que as informações foram ficam mais acessíveis comecei a saber quem eram alguns deles... COOP (as mulheres opulentas e perversas), Marco Almera (com seu estilo retro e parceira de algumas das minhas bandas alternativas prediletas e antes do retro virar hype!), Jim Phillips (Santa Cruz Skateboardings) e Vernon Courtland Johnson (quem não pirou nos shapes da Powell Peralta???) ditavam a moda street!! 

Poster by Derek

Poster by Derek



Ed Roth fez a geração dos 60/70 alucinar com o Rat Fink..alias ainda faz até hoje.

Skate art by Jim Phillips

Nos quadrinhos... Liberatore (Ranxerox), Max (Peter Punk), Rochette & Veyron ( Edmundo, O Porco) e outros tantos mestres que nos alimentavam com suas ideias brilhantemente insanas!
Bem poderia ficar um bom tempo citando minhas referencias, mas hoje a ideia é falar de ilustradores BRASILEIROS. 
Esses gringos mesmo trabalhando pelo circuito underground, tem uma visibilidade muito grande e um grande numero de fãs.
Os caras tem sites, fazem camisetas, livros, disponibilizam seus originais, sketchs, serigrafias pra venda, ou seja, existe uma cultura de consumo de imagens e consequentemente a chance deles viverem dos desenhos sem ter de ter outros trampos onde não façam o que realmente gostam. E eles mais do que merecem isso, pois são brilhantes. 
Mas e aqui no Brasil ???? É possível viver de arte para o mercado e publico underground?
Comecei pesquisando um pouco o publico e a maioria nem sabe quem são os autores dos trabalhos que eles sabendo ou não, admiram dia a dia...
Assim...escalei seis amigos/ilustradores pra contarem o lado deles. Vamos dividir matérias individuais pra vocês curtirem bem essa pessoas incríveis e seus trabalhos, mais incríveis ainda...
São eles: Daniel ET, G-Lerm, Daniel Cacciatore, Ricardo Machado, Ratones Skate e Gui Borgomoni.

É isso vc já leu as impressões do GUI e agora... Ratónes dá a nota... 

Loco A Go Go: Por favor, apresentem-se pros leitores do  Loco A Go Go. Nome, apelido e o que fazem além de desenhar. 
Ratónes: Meu nome é Everaldo Marques, também conhecido como Ratónes ou Ratão no meio do skate, skatista desde os meados dos anos 80, desenhista,amante da arte desde sempre.

Everaldo"Ratónes" Marques
Loco A Go Go: O que levou um você a desenhar?
Ratónes: Eu desenho desde os meus 3 anos de idade, mas conforme fui crescendo, fui reparando um tio que sempre ia em casa. Na época só nós tínhamos uma "vitrola" e ele ia ouvir discos de vinil e ficar desenhando, foi nessa que peguei gosto pela arte e pelo rock n'roll!

Loco A Go Go: Como seus desenhos/ilustrações passaram de passatempo para trabalho?
Ratónes: Eu sempre desenhei paralelamente às outras profissões que vinha exercendo, sempre trabalhando no meio do skate, mas em 2003 eu joguei tudo pro alto e fui me dedicar à minha arte.

Ratones ralando!!


Loco A Go Go: Como foi a decisão de sair do padrão normal de todo desenhista iniciante? Tipo deixar de lado copiar os HQs e sair pras coisas mais bizarras, monstros, caveiras, ou seja lá o que voce desenhe?
Ratónes: Quando eu fiz 13 anos de idade (1985) comecei montar meu primeiro skate. Do rock que eu ouvia o que veio do meu tio: Pink Floyd, Led Zeppelin. Daí eu pulei para o PUNK e vi uma relação do som e da arte, comecei a reparar os gráficos no skates dos anos 80; as capas de discos (LOBOTOMIA, ATAQUE SONORO, EXPLOITED...), os zines. Comecei a criar meus próprios personagens e desenvolver um estilo próprio. Nunca fui muito de copiar, mas fez parte da minha história como ilustrador ficar desenhando o Homem-Aranha, Batman, heróis em geral, até minha arte ir pegando forma.

Loco A Go Go: Quais os ilustradores que te influenciam (gringos e brasileiros)?
Ratónes: Bem, muita gente me influenciou, embora sejam de outro estilo, alguns foram o Mauricio de Souza, o Daniel Azulay, Walt Disney, Billy Argel, Keith Haring, Jim Phillips, Pushead, Sean Cliver, Marc Mckee, entre outros.


Arte do Ratónes




Loco A Go Go: Quais técnicas você mais gosta?
Ratónes: Eu uso técnicas variadas pra fazer meus trabalhos, tudo começa do papel e lápis mesmo, mas eu uso marcadores, sprays, tinta acrílica, stencils (que já fazia desde os anos 80), técnicas variadas. Depende do que vou fazer, se é um trabalho "free", ou se é um trabalho pra alguma marca ou cliente.








Loco A Go Go: Sua arte te sustenta financeiramente?
Ratónes: Sim, minha arte me sustenta financeiramente, assim construí minha família, educo meu filho, embora a arte seja muito pouco valorizada aqui no Brasil, mas meu sustento vem da minha própria arte!

Arte do Ratónes
Loco A Go Go: Quais obras suas estão por ai no subterrâneo e a galera nem faz ideia? 
Ratónes:  Nesses anos já fiz muita arte, grande parte das marcas de skate do Brasil tem meus trabalhos, com certeza quem anda de skate ou mesmo é simpatizante já usou algum produto que eu tenha feito a arte.

Loco A Go Go: Cite qual você, mais gostou de fazer e qual foi o melhor resultado?
Ratónes:  As artes que eu mais gostei de fazer são de uma marca chamada Skate até Morrer. Gostei muito de fazer também arte para shape de atletas conceituados, como o Rui Muleque, Sérgio Negão, também algumas artes que eu fiz pra uma marca americana que acabaram de sair e vão para o mundo todo. Na verdade, a arte que eu mais gosto de fazer é quando tenho liberdade de criar e colorir sem limitações. Infelizmente no Brasil existe essa "limitação", devido à custo de produção e cultura de algumas pessoas.

Loco A Go Go: Você. Muito trampa na brodagem? Ou seja... Faz desenhos de graça pros amigos. Como encara isso?
Ratónes: Não trabalho muito na "brodagem", já fiz muito, mas não faço mais, quem valoriza meu trabalho compra o que eu faço e não me pede de graça! Quem gosta do meu trabalho compra, me ajuda a crescer, valoriza a arte e o artista brasileiro, se for pra ser de "graça", eu presenteio alguém com algum trabalho.


Loco A Go Go: Acha que o mercado tem espaço pra ilustradores?
Arte do Ratónes
Ratónes: Não, eu acho que o mercado na verdade não tem muito espaço pra ilustradores, pelo menos no nosso mercado. Hoje tem muito moleque que faz um cursinho aí de design e já acha que é artista e vende arte a preço de banana. Culpa também de quem compra, que pensa em pagar barato e não dá valor a uma história, uma caminhada, conhecimento, apenas querem ter a arte por um preço muito baixo, independente de quem faça ou sua história.




Shape by Ratónes


Loco A Go Go: Como Você, se compara aos ilustradores gringos (Como base de pode usar alguns dos que citei no começo da matéria)? 
Ratónes: Eu evito comparações, pois cada artista tem o seu traço, o seu estilo, eu admiro muitos, mas tenho o meu valor, valorizo meu trabalho. Acabei de fazer arte para uma marca dos USA, lá está boa parte dos melhores ilustradores do mundo, mas se meu trabalho foi escolhido dentre eles, acredito que minha arte foi reconhecida e carrega seu valor também.

Loco A Go Go: Você acredita que com as linhas de negócios como as utilizadas como lá fora (Livros, Camisetas, Vendas de Obras e Copias, Bonecos ... podem dar certo no Brasil ?
Ratónes: Acredito que podem dar certo também, mas é um longo processo, precisa cultura, precisamos também ter uma melhor economia. É preciso ter conhecimento pra reconhecer uma boa arte, feita com conteúdo, informação, valorização. Na América, na Europa, arte tem outro valor, sempre foi valorizada, aqui muito pouco, mas eu trabalho pra isso. Há muitos bons artistas e não só os que estão na "panela", tem também os artistas mais "underground", que não tem espaço, ou acabam trabalhando em outra área por falta de oportunidades e valorização de arte.

Loco A Go Go: Como fico fuçando muito, vi que existe um caminho que muito gente esta usando no mercado externo. O de pôsteres fictícios. Explico desenham pôsteres de shows de bandas badaladas mas que nunca fizeram esses shows, um artificio pra venderem seu material... você faria isso?
Ratónes: É, eu também já reparei que fazem esse trabalho, essa semana mesmo eu vi uns posters do Jello Biafra e sua banda feitos free por artistas para valorizarem seu nome. Eu particularmente não faço isso, pois meu trabalho é meu sustento, não tenho como desprender um tempo pra fazer uma arte sem receber e sem saber se vou ser reconhecido por isso. Não quer dizer que nunca vá fazer isso, mas não é meu interesse.

Loco A Go Go: O fim do uso de pôsteres nas ruas (em SP temos o cidade limpa), divulgação de eventos hoje ser fortemente feita por mídias digitais, minando a distribuição de flyers e por fim material de divulgação pobre (ex.: um pôster digital feito com os dados do evento em cima de uma foto qualquer) desanima a continuar com seu trabalho?

Ratónes: Eu sou do tempo que se sabia de shows através dos "lambe-lambes" nos muros, dos fanzines PUNKS. "Cidade-Limpa"?? Cidade tem que ser limpa desses caras que mandam na cidade, que desviam verba pública da saúde, do esporte e cultura, isso que deve-se "limpar". Nossa periferia é suja pelo descaso, enquanto os bairros nobres são arborizados e constantemente limpos pela prefeitura.
E não, isso não desanima a fazer o meu trabalho, pelo contrário, cada vez mais procuro mostrar a minha arte e valorizar oque realmente tem valor.

Loco A Go Go: O que poderia ser feito pra melhorar a penetração do trabalho dos ilustradores em meio aos consumidores e/ou publico em geral?
Ratónes: Para melhorar a penetração dos ilustradores é preciso cultura, querer fazer arte mesmo e não apenas pegar uma imagem na internet e trabalhar em cima disso, infelizmente cada vez mais se formam novos "artistas de laboratório", aprendem na escola o design, mas não conhece história da arte e se limitam a computadores para fazerem seus trabalhos, nunca sujaram a mão de tinta, não sabem desenhar à mão, não sabem o que é um esboço, o que é sombra e luz, entre outras coisas. Cultura é a solução de tudo, junto com o respeito ao próximo.

Shapes By Ratónes (feitos na Gringa)


Loco A Go Go: Que planos de futuro você tem?
Ratónes: Meus planos são continuar trabalhando honestamente, estudando, aprendendo, quero levar minha arte pra fora do Brasil, pois lá é bem valorizado, reconhecido, quero continuar a ser a mesma pessoa, andar de skate, fazer a minha arte, cuidar da minha família e ouvir o bom e velho PUNK/HARDCORE, que é o que eu fui desde sempre e serei.


Loco A Go Go: Por favor sinta-se a vontade pra deixar um recado, desabafo ou qq outra coisa que queira...
Ratónes: Seja honesto, não passe ninguém para trás, valorize seu trabalho, adquira conhecimento sempre, nunca é demais, nunca pense que sabe tudo, pois não sabe. Sucesso só vem de muito trabalho e honestidade, seja quem você é, e não o que está na moda ou na atualidade, crie seu próprio conceito e respeite o próximo.


E ai foi o drop do Ratónes... num downhill alucinado por ilustrações e visuais inspiradas no que rola nas ruas... 
Mas não fique triste que nossa série ainda ta no começo... ainda temos mais uns alucinados que fazem nossos olhos ter algo de diferente do que o sistema nos enfia "visão" abaixo... se segura que nois volta....

Flavio Loco Ferraz

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