Loco A Go-Go: Serie: Ilustradores Made In Brazil

Aqui estamos na etapa numero três da nossa serie de Ilustradores brasileiros e fica cada vez melhor.
A bola da vez...ops acho melhor a caneta da vez é o Mr. Daniel "ETE" multifunção dentro do Underground Paulista e Brasileiro e meu truta a bem uns 20 anos... da época de demo tapes, Junta Tribo, Fun Milk & Destroy... Títulos, que se você não sabe o que significam, "pesquise" !! Ai sim será merecedor desse conhecimento.

Além de ser integrante dos Muzzarelas sempre desenhou capas e posteres de shows.... no começo, coisas bem básicas....mas o tempo passa e ele foi se aprimorando, até que hoje temos referencias dele em muitos pontos do underground e quem já conhece um pouquinho do estilo é capaz de identifica-lo em uma ou duas olhadas.

Mas vamos a INTRO velha de guerra e a regra continua...se você já leu...pula lá pra entrevista!!!

Quadrinhos do RDP inicio dos 90

INTRO!

Sempre fui apaixonado pelas imagens que povoaram minha vida underground. Foram cartazes de show, flyers, estampas dos shapes e adesivos de skate e surf, capas de discos (Lps e Cds), grafites, fanzines, quadrinhos alternativos (como a revista Animal) e qualquer outro lugar de tivesse um desenho que me fizesse parar por um momento.

Conforme fui amadurecendo e também por que as informações foram ficam mais acessíveis comecei a saber quem eram alguns deles... COOP (as mulheres opulentas e perversas), Marco Almera (com seu estilo retro e parceira de algumas das minhas bandas alternativas prediletas e antes do retro virar hype!), Jim Phillips (Santa Cruz Skateboardings) e Vernon Courtland Johnson (quem não pirou nos shapes da Powell Peralta???) ditavam a moda street!!

Liberatore

Ed Roth fez a geração dos 60/70 alucinar com o Rat Fink..alias ainda faz até hoje.
Nos quadrinhos... Liberatore (Ranxerox), Max (Peter Punk), Rochette & Veyron ( Edmundo, O Porco) e outros tantos mestres que nos alimentavam com suas ideias brilhantemente insanas!

Bem poderia ficar um bom tempo citando minhas referencias, mas hoje a ideia é falar de ilustradores BRASILEIROS.
Esses gringos mesmo trabalhando pelo circuito underground, tem uma visibilidade muito grande e um grande numero de fãs.

Os caras tem sites, fazem camisetas, livros, disponibilizam seus originais, sketchs, serigrafias pra venda, ou seja, existe uma cultura de consumo de imagens e consequentemente a chance deles viverem dos desenhos sem ter de ter outros trampos onde não façam o que realmente gostam. E eles mais do que merecem isso, pois são brilhantes.
Mas e aqui no Brasil ???? É possível viver de arte para o mercado e publico underground?
Comecei pesquisando um pouco o publico e a maioria nem sabe quem são os autores dos trabalhos que eles sabendo ou não, admiram dia a dia...
Assim...escalei seis amigos/ilustradores pra contarem o lado deles. Vamos dividir matérias individuais pra vocês curtirem bem essa pessoas incríveis e seus trabalhos, mais incríveis ainda...

São eles: Daniel ET, G-Lerm, Daniel Cacciatore, Ricardo Machado, Ratones Skate e Gui Borgomoni.
E que comece a terceira etapa... Daniel " Ete" Giometti !!

A Go Go - Por favor, apresente-se pros leitores do Loco A Go Go. Nome, apelido e que é/ou faz além de desenhar.
Daniel "ETE" - Meu nome é Daniel Pacetta Giometti,sou também conhecido por ETE,desenho caveiras e monstros desde muleque,também toco em algumas bandas como Muzzarelas,Drakula e Desenmascarado,produzo shows de bandas barulhentas e tenho uma loja de discos.

A Go Go - O que levou você a desenhar?
Daniel "ETE" - Não me lembro,desenho desde muito cedo,desde uns 5 anos.

A Go Go - Quando e como seus desenhos/ilustrações passaram de hobby para trabalho?
Daniel "ETE"- Comecei desenhando posteres para os shows que eu organizava,aí foram aparecendo umas capas de disco e camisetas para outras bandas além das minhas.eu fazia uns posteres em troca de cerveja para o bar de um amigo meu, o pagamento pelo primeiro quadro que eu vendi na vida foi uma caixa de cerveja também.Mas com o tempo e as contas que nunca param de aparecer troquei a forma de pagamento. Mas comecei a encarar de forma mais séria a parada nos últimos 15 anos.

A Go Go - Como foi a decisão de sair do padrão normal de todo desenhista iniciante? Tipo deixar de lado copiar os HQ e sair pras coisas bizarras, monstros, caveiras, ou seja, lá o que você desenhe?
Daniel "ETE"- Eu nunca me dei bem em seguir esse padrão normal, nunca fiquei copiando os desenhos da Marvel e essas paradas...na real eu pirava mais os desenhos da Calafrio e da Kripta,mas nunca consegui copiar os desenhos,mas minha total falta de habilidade na cópia no fim me ajudou bastante. Eu gostava bastante dos personagens do star wars, galatica e de filmes de terror e ficção cientifica que eu via na tv,mas na época (fim dos anos 70,começo dos 80),quase não tinha nenhuma referência gráfica disponível,pelo menos pra mim ,então eu desenhava baseado na minha memória mesmo, aí a parada acabava saindo do meu jeito mesmo. Nem vídeo cassete eu tinha,era quase só na memória mesmo,no máximo uma foto ou outra que eu conseguia numa revista .

Cartaz Drakula by Daniel ETE

A Go Go - Quais os ilustradores que te influenciam (gringos e brasileiros)?
Daniel "ETE"- Tem muita gente, tanto clássicos como atuais,aí vai a lista de gente que gosto bastante e que de uma forma ou outra acabaram me influenciando:
Billy Argel, Lourenço Mutarelli, Flávio Colin, Crumb, Pushead, Jim Phillips, XNO, Danielone, Jack Kirby, Aragones, Joe Coleman, Winston Smith, Marcati, Chico Felix e Antonio Roseno .

A Go Go - Quais técnicas você mais gosta e usa?

Daniel "ETE"- Me divirto muito desenhando direto no papel com nanquim mesmo,gosto também de desenhar sobre fotos e xerox, quando arrumo um tempo livre pinto umas telas com tinta acrílica, e recentemente voltei a fazer colagens por causa da capa do disco novo do Leptospirose.

Capa do CD do Leptospirose by ETE

A Go Go - Sua arte te sustenta financeiramente?
Daniel "ETE"- como tenho várias atividades,a arte é um belo complemento,já paguei muito leite de soja p/ a minha filha desenhando monstros e caveiras.

A Go Go - Quais obras suas estão por ai no underground e a galera nem faz ideia?
Daniel "ETE" – Fiz a ilustração para a capa do Carne do Mukeka Di Rato e o trampo acabou ficando bem diferente das coisas que sou habituado a fazer, e ainda por cima esqueci de assinar.

CD do Mukekka - Carne by Daniel ET

A Go Go - Cite as que você mais gostou de fazer e as com o melhor resultado.

Daniel "ETE"- A capa do tatuagem de coqueiro que é o novo disco do Leptospirose eu levei cerca de um ano p/ terminar,e foi bastante divertido.Gosto muito também dos desenhos que eu fiz para a Weird e para os shapes que a Sick Mind lançou recentemente e do desenho para a camiseta do Violator Futurephobia.

A Go Go - Você trampa muito na brodagem? Ou seja faz desenhos de graças pros amigos) Como você encara isso?
Daniel "ETE"- Na real sou bem mercenário hahahahah,mas isso sempre acaba acontecendo .

A Go Go - Acha que o mercado tem mais espaço pra ilustradores?
Daniel "ETE"- Acho que sim,tem muito mais gente em busca de desenhos originais e legais hoje em dia do que um tempo atrás,a arte vem sendo mais valorizada nos últimos tempos,tem muita gente boa por aí...ainda bem.

Capa do Vinil Lotus Rck AD do Muzzarelas by Daniel ETE

A Go Go - Como você se compara aos ilustradores gringos (como base pode usar alguns dos que citei no começo da matéria)?
Daniel "ETE"- Não costumo me comparar a nenhum outro desenhista, seja ele gringo ou brasileiro.Quanto aos gringos eles tem a vantagem de ter um mercado muito mais vasto e viável,mas mesmo assim tem que dar um puta trampo senão fica p/ trás como em qualquer lugar do mundo.

A Go Go - Acredita que as linhas de negócios como as utilizadas lá fora (Livros, Camisetas, Vendas de obras e cópias, bonecos...podem dar certo no Brasil?
Daniel "ETE" – Acredito que sim,como eu disse antes o interesse por arte no meio underground no Brasil vem crescendo bastante,para todos os lugares aonde vou,sempre tem um cara novo bom trampando,seja para bandas,zines ou qualquer outra parada dessas,recentemente fui p/ Belem e tinha gente muito boa desenhando por lá. Tenho um amigo o Artur ”Ramone” Souza que começou fazendo bonecos dos Ramones por hobby e hoje é reconhecido pelo Marky, pelo CJ e pelo irmão do Joey também,ele atualmente está preparando uma série oficial de estatuetas do mestre Zé do caixão com o aval do próprio, não sei se isso seria viável a uns anos atrás. Depois de um período bem mequetrefe quanto a arte no undeground brasileiro aonde quase tudo era chupado descaradamente de cartazes gringos ou feito por designers borra botas a coisa vem melhorando muito.

A Go Go - Como fico fuçando muito, vi que existe um caminho que muito gente esta usando no mercado externo. O de pôsteres fictícios. Explico desenham pôsteres de shows de bandas badaladas mas que nunca fizeram esses shows, um artificio pra venderem seu material... vocês fariam isso?
Daniel "ETE"- Quando eu era muleque eu tinha uma banda fictícia chamada spiritu de porko,eu fazia uns cartazes durante a aula de matemática,tipo Spiritu de Porko ,Venom e Black Sabbath fazendo shows na minha escola, mas nunca mais fiz isso, na real achei bem engraçado,gostei da ideia vou ver se faço um do Cramps junto com o Drákula,com participação especial do Vincent Price e do Screamin’ Jay Hawkins.

Simbolo do Muzzarelas by Daniel ET (foto pilhada na net)

A Go Go - O fim do uso de pôsteres nas ruas (em SP temos o cidade limpa), divulgação de eventos hoje ser fortemente feita por mídias digitais, minando a distribuição de flyers e por fim material de divulgação pobre (ex.: um pôster digital feito com os dados do evento em cima de uma foto qualquer) desanima a continuar com seu trabalho?
Daniel "ETE" – Não chega a desanimar,mas acho uma merda,gosto muito de ver posters de shows pelas ruas,eles deixam a cidade mais bonita.Era bem legal encher a cidade de posters nos anos 90,eu pegava a bike e saia num rolê noturno colando as paradas.Uma vez rolou um show do Lulu Santos aqui em campinas,e a cidade ficou lotada de uns lambe lambes coloridassos com a cara do dito cujo,então eu peguei uma carona na divulgação dele e colei um cartaz p/b dos Muzzarelas em cima do rosto do lulu,chamou bastante atenção aquele cartas todo coloridão,só que com uma caveira podre de xerox na fuça do safado.Teve outra vez que eu imprimi um pôster bem grandão de um show dos Zumbis do Espaço e colei numa igreja aonde antigamente funcionava o cinema que eu ia quando era criança como se fosse os posteres dos filmes,foi tipo uma vingança.Mas mesmo sem poder levar a divulgação gráfica p/ a rua,como antigamente,ainda acho muito importante a confecção de posters,mesmo que sejam para lugares mais específicos,como bares e lojas de discos,eles continuam fascinando muita gente e são altamente colecionáveis.

A Go Go - O que poderia ser feito pra melhorar a penetração do trabalho dos ilustradores em meio aos consumidores e/ou publico em geral?
Daniel "ETE" – Continuar trabalhando duro e se esforçando em criar trampos e estilos originais,acho que o público em geral nunca vai absorver esse tipo de trampo em seu estado bruto,talvez se liguem em algumas cópias da cópia diluída,como sempre tem sido,mas eles que se fodam o underground ainda é muito grande e forte, ainda é um lugar aonde tem muita gente de cabeça aberta ainda aprecia coisas novas e desafiadoras, acho que não precisamos do grande público em geral, nem ele precisa da gente.

Shape da Banda McRAD by Daniel ETE

A Go Go - Que planos de futuro você tem?
Daniel "ETE"- Quero fazer um livro com meus cartazes , continuar fazendo camisetas para a minha loja e para bandas e capas de discos,quem sabe eu me arrisque fazendo algumas animações ou coisa parecida,então se alguém aí estiver a fim de fazer uns desenhos animados na pegada tabletop dos antigos e toscos desenhos do Thor e do Capitão América sinta-se a vontade para entrar em contato.

A Go Go - Por favor sinta-se a vontade pra deixar um recado, desabafo ou qq outra coisa que queira...
Daniel "ETE" – Apoiem as coisas legais,é muito mais divertido que que ficar reclamando das coisas de merda,existem várias bandas foderosas precisando da nossa atenção,vários artistas interessantes por aí,não vira ficar reclamando que a cultura de massa é uma merda e essas coisa,sempre foi,sempre será,sempre existirá o público gado. E sempre estaremos do lado oposto.